“Whatever one does, one can only respond to the system in its own terms, according to it’s own rules, answering it with it’s own signs.”
Jean Baudrillard, Le Mirroir de la Production, 1973
“O Capitalismo não se mede pelo teu degrau de participação, ele está em todo o lado. O Capitalismo é como os quadros do Pollock, é por todo o lado, não é uniforme mas está por todo o lado.”
Mårten Spångberg, Spanbergianism, 2011
Marianne Baillot: Uma das especificidades do Porto é o fervilhar de projetos e lugares alternativos. Tempo e espaço aqui são possíveis de encontrar de uma forma acessível. Não faltam espaços abandonados para ocupar ou alugar por rendas baratas.
Marta Bernardes: Sim, há também tempo de sobra, há tempo para a inutilidade. Isso aguça as ideias, se estes tempos de nada fazer fossem mais fáceis de traduzir em experiência e construção concreta, seríamos um centro artístico de exceção. Mas, muito tempo dá a ilusão que o tempo não finda e isso não cria urgência.
Marianne: Concordo Marta… a arte tem sempre a ver com uma anti-produção, um modo de produção que resiste aos modelos genéricos, à sociedade da clarividência que quer nos fazer crer que tudo está contido no indivíduo, que tudo está prescrito como um programa que se realiza, que é previsível e mesurável num certo número de pontos e capital… Capital saúde, capital emoções, capital…
Marta: Sim, mas essa cultura “alternativa”, essa forma de desenrasca não é somente um ato de resistência. Esse agir alternativo é consequência de uma falta geral de meios e de política cultural ambiciosa.
Marianne: Sim, concordo. Destabiliza-me que as grandes instituições culturais façam um pouco de tudo e qualquer coisa: do grande acontecimento até que está na moda… é muito difícil para as estruturas intermédias sobreviverem face a essa concorrência “desleal”. Vejo-me constantemente entre burocracia exagerada e o neoliberalismo com os seus corolários – o cinismo generalizado, a auto-precarização, o fetichismo do “meu projeto alternativo tão fora do sistema !!!
Marta: Eu adoraria que a urgência e a contemplação se encontrassem, numa rua do Porto.
Marianne: oui ce serait ça l’autonomie ultime. Pas le grand geste de liberté, mais un travail “numa rua” avec des contraintes données… J’ai…Je suis émue…en fait…j’ai voulu faire ce guide parce depuis deux ans… je n’allais pas très bien…je me suis dit… aller… tu flottes au grès des sons des Portugais depuis trop longtemps, tu peux pas rester comme ça, tu dois parler portugais… aller, tu va jouer aux journalistes maintenant, tu vas faire un truc impossible…Merci à tous vraiment, merci de m’avoir donné la possibilité de réaliser mon rêve. Je voudrais dire à tous les enfants qui regardent leurs télévision de ne pas abandonner leur rêve…(accords majeurs au piano). Portanto, encontrar a unidade no passado mitificado não funciona… – isso seria metade retórica Salazarista, metade retórica corporativista em desuso- encontrar uma unidade com uma comunidade
Marta: Metade retórica corporativista em desuso?
Marianne: Sim, muitas das lógicas old-school de criação de marcas passam por reduzir a identidade de uma dada marca à sua essência. “A essência torna-se o exercício de purificar, excluíndo tudo o que possa constar distração, para depois reproduzir o mais abragentemente possível. Eventualmente, e consoante o nível de reconhecimento, pode ser que o produto venha a se tornar atrativo”. Rem Koolhaas. As lógicas conservadoras e patrimoniais que querem reduzir a identidade cultural a uma “essência” estão na verdade muito próximas das lógicas neoliberais das grandes marcas…Comme le dit très bien mon ami Heitor Alvelos: “Pureza, a melhor gasolina das ideologias de progresso…”
In the 60’s individuals and groups made themselves precarious, moved out into the forests and practiced free sex; cut themselves loose from middleclass USA and celebrated the individual. In today’s political landscape self-precarisation is a wet-dream for neo-liberalism, the perfect-self-employed entrepreneur being so goddamn creative and imaginative with his homemade half Chinese import put it together services. Individual is everything, but of course we tend to forget that there is somebody that makes piles of money on you working on yourself. Why? Well, otherwise you you’d be striving for something else. Your imagination is not yours, Leonardo Di Caprio isn’t science-fiction (…) Outsourcing is a common phenomenon but today it extends beyond the cleaning service or consultants, outsourcing has become “crowdsourcing”, which implies that the consumers function as labor usually involuntary or in exchange of access to e.g. a social network. Everytime you login to your facebook account you work for Mr Zuckerberg”.
Mårten Spångberg
Hardt e Negri consideram que o trabalho industrial cessou de ser hegemónico no fim do século XX, sendo substituído pelo trabalho imaterial – pelos menos como tendência hegemónica actual que vai determinar a forma principal de produção do século XXI. Assim o trabalho “cognitivo” ou “afectivo” cria novos bens, novos produtos, desde a informação e a comunicação as emoções e pensamentos.(…) O trabalho imaterial vai levar a uma transformação profunda da sociedade e dos tipos de governação. O conteúdo do trabalho, hoje implica a produção de vida.(…) Múltiplas noções da economia política terão de sofrer mudanças.
José Gil