Conhece algum fantasma no Porto? Fantasmas ligados a pessoas, lugares, eventos que aconteceram e que, mesmo tendo desaparecido, continuam presentes de uma forma impercetível?
A fantasmagoria urbana começa quando queremos ver num sítio outro sítio. Quando o nariz deixa de saber reconhecer o novo e encontra apenas os cheiros do passado.Quando sentimos mais fortemente a ausência de algo do que a presença de algo. Quando dificilmente nos adaptamos à mudança, resistindo à novidade com “provas” de que o passado era melhor, mesmo que nunca o tenhamos visto ou experimentado. Quando sentimos falta e a famosa “saudade” portuguesa aperta. Um fantasma – aquele senhor de lençol branco – é a projeção de uma imagem do passado no presente. Um fantasma de uma cidade é um pedaço de cidade antiga rodeado de novo, ou uma ruína indecisa entre o abandono ou a preservação arqueológica. Os fantasmas do Porto estão por todo o lado, inclusivé na cabeça dos tripeiros. São cinemas desativados, projetos de arquitetura inacabados ou um centro histórico com desertificação. O charme de uma cidade reside muitas vezes nestas cápsulas de tempo, é nelas que o corpo se sobressalta. Sobressalta-se o corpo do turista pelo seu conhecimento ahistórico do espaço, sobressalta-se o corpo de quem habita o Porto por se ver a cada dia na paisagem familiar que constantamente estranha. Os fantasmas de uma cidade são tesouros que nem todos conhecem. Mas são também os erros que transbordam para o senso comum de quem habita a cidade como uma casa. Nostalgia, memória e desparecimento. Todas as cidades têm os seus fantasmas e esqueletos no armário.
Rita Natálio
Areosa Lda., uma velha fábrica de granito de uma cooperativa de pedreiros que agora está fechada. Há lá sempre um homem tão avarento que os seus sapatos eram uma tábua de madeira embrulhada em couro. [[A Fábrica da Areosa era a fábrica de Manuel Pinto de Azevedo. Foi registada em filme, em 1927, e pode ser visto no YouTube. O empresário aparece na segunda parte do filme (ao minuto 7’45’’). É um documento notável sobre a indústria e os meios de produção do setor têxtil do início do século XX.]]
O edifício sobre o rio onde agora há uma escadaria que era um edifício típico com armazém e loja no piso térreo e espaço habitacional nos superiores. [[]]
O fantasma do Aniki Bóbó [[]], o bar na Ribeira que roubou o nome ao filme de Manoel de Oliveira. Era um lugar mítico da vida noturna do Porto nos anos 80 e 90. Era um lugar de artistas, designers, gente das Belas Artes e figuras conhecidas da cultura portuense. Viam-se muitos artistas novos e as coisas que eles faziam. Ah! E a gata, a gata preta… A Ribeira era o ponto de encontro, o centro da noite e vibrava! Depois algo mudou, a movida já não era desejada naquele lugar, veio o carro-vassoura, e as pessoas dispersaram…
Cinemas: Cineclube do Porto. Cinema Terço, Batalha foram sendo transformados noutros projetos. Para as pessoas mais velhas, elas tinham realmente o hábito de lá ir. Cemitério Agramonte na Boavista é um dos mais importantes da Europa. Há pessoas que vêm de muito longe para o ver. [[]]
Havia cafés magníficos que foram transformados em bancos. Agora onde é o MacDonalds nos Aliados, havia um café magnífico.
A livraria Lello. [[Rua das Carmelitas 144 / T:222 002037]]
O Bolhão. A Torre dos Clérigos. O Porto sempre teve virado para o passado e temos que ultrapassar esse passado. O saudosismo tem que acabar.
Rua do Almada é a única rua direita da cidade. Foi construída durante um momento em que se queria fazer um projeto urbano revolucionário na cidade, fazer quarteirões quadrados, mas esta cidade tem um caráter mais forte do que qualquer projeto.
O fantasma da pobreza que pode ser visto na tentativa aparente das mulheres mostrarem roupas caras ou a importância social de ter um carro caro.
A intensidade da existência das pessoas, as coisas vintage, imagino as pessoas que utilizaram estes objetos. Gosto muito de sentir uma sensação intemporal e sinto-a aqui no Porto. Estas sensações intemporais que podes ver pelas viaturas, sinto-me noutra época porque há ruas (caminhos) e casas muito antigas.
Sinto a falta do Palácio de Cristal que nunca conheci. Podemos sentir a falta até daquilo que nunca conhecemos.
As pessoas ainda se comportam como nos anos 60. Há muito anacronismo especialmente no Centro Histórico, na Cordoaria.
O fantasma é a ditadura. Os 48 anos de ditadura permanecem na cabeça das pessoas. Falta de coragem. Em 1974 houve pela primeira vez Coca-Cola. Apanhamos tudo o que vem de fora porque estivemos tão fechados.
Uma vez fiz um percurso debaixo da terra porque há muitas galerias. É a companhia das Águas que lida com isso, mas em alguns momentos foi possível fazer esta visita.
Quando era adolescente estava numa de ser gótico, solitário e andava nas ruas à noite. Atravessava frequentemente a cidade sem encontrar uma única pessoa. Ou encontrava pessoas sozinhas. Gosto dessa solidão. Gosto de fantasmas. Sentes que te olham. Anjos ou soldados esculpidos nas paredes. Sentes que te olham. Cresci em Gaia e não tenho passado. Não consigo recuperar as ruas. Tudo mudou. Nos anos 90 tudo mudou de sítio, alterou-se. E também depois de 2001, mudou muito: tornou-se mais organizado com transportes públicos. Mas quando fazes um plano arquitetónico também precisas de ter um plano social!
Cheguei em 1992 e descobri a cidade de comboio. Hoje desapareceu.
O fantasma de Lisboa. O centralismo. Aqui no Porto vem sempre a partir da iniciativa privada, tens que investir tu próprio. Em Lisboa, todos os monumentos são financiados pelo erário público. Aqui é a iniciativa privada que conduz as coisas. O rei tinha de pedir autorização para entrar na cidade.
Os Ingleses. Um fantasma que explode por trás, pois sempre exploraram a cidade comercialmente. Hoje, as casas de vinho mais importantes pertencem às famílias Inglesas e eles realmente não investem aqui.
Os Fantasmas existem mal começas a aperceber-te da cidade. Não são óbvios. A forma como a cidade lida com os seus mortos é muito interessante. O Porto é uma cidade católica e os Ingleses que cá viviam eram protestantes e não lhes era permitido enterrar os seus mortos nos cemitérios católicos. Eram enterrados ao longo do Rio Douro. Não era permitido, mas eles não tinham outra solução e faziam-no. Até à Foz, havia areia e praias no Porto e em Gaia. Tenho uma bisavó Inglesa e ainda não sabemos onde ela foi enterrada. Por exemplo, quando renovaram o Palácio das Artes encontraram muitos ossos lá. Era um mosteiro para homens, mas os ossos não eram só de homens. Criaram o Cemitério dos Ingleses por esta razão.
Os cemitérios da cidade são bons lugares para visitar. O “Prado do Repouso” é lindo para visitar. Ouvi falar acerca de um túnel secreto entre este cemitério e o museu militar que fica lá perto. Há campas muito bonitas. Uma mulher presa durante o período fascista olhando na direção do Museu Militar que era então a sede da polícia política. As pedras de um jazigo vieram das pedras do Teatro Baquet que ardeu.
O anti-sul. Anti-mouros. “Se és de Gaia és mouro”. Mas isto não no sentido racista ou chauvinista, mas no sentido de orgulho.
A questão do confronto que sempre houve no Porto entre o poder civil e o poder religioso.
PESSOAS
O Duque da Ribeira numa noite de inverno, com chuva, no rio à procura de algum suicida desmaiado. [[ Batizado Diocleciano Monteiro, em 24 de Março de 1902, foi a própria mãe que lhe abreviou o nome para Duque. Com 11 anos, o “Duque da Ribeira”, como ficou conhecido, salvou das frias águas do Douro um rapaz mais velho que ele.E nunca mais parou. Até à sua morte, em 1996. Tinha 94 anos . A sua profissão, barqueiro, levava-o a passar a maior parte do tempo no rio e forjou-lhe a fama. Quem caísse ao rio o Duque ia buscar. “Alguns já mortos, mas lá no fundo é que não ficavam”, afirmou uma vez. A sua forte ligação ao rio, que lhe valeu medalhas, honrarias e condecorações, ficou estampada no nome do seu primeiro caíque, ” Capitão Cobb”. Um herói, como explicou mais tarde o Duque, que, quando morreu, quis que as suas cinzas fossem espalhadas pelo Rio Douro. ]]
O meu fantasma é o Aurélio da Paz dos Reis. Sabes onde é a loja da Benetton? Era uma fábrica antes e o Aurélio da Paz dos Reis, um empreendedor brilhante que era amigo do Louis Lumière, filmou operárias a sair dessa fábrica após o trabalho. Foi o primeiro a fazer filmes em Portugal. O Porto fez parte da aventura fotográfica e cinematográfica graças a este homem. A maioria das fotografias antigas da cidade que hoje podes ver foram feitas por ele. [[ Foto de Aurélio da Paz dos Reis e algumas das suas imagens do Porto novecentista.]]
TERCEIRO ATO
FUTURO
Remember we don’t believe in the future, we believe the future. There’s nothing to project on just plain and simple production. Mårten Spångberg
And alone, we live. Together and now we have visions fears and desires. Life we must share and maintain ourselves in spite of ourselves, in community. And again we remember that we are still alive and ask who is making the work, who is setting up an alternative economy giving with mutable access. Of this we must go and remember of life we all turn. Ben Kinmont
FANTASMAS NO PORTO
Conhece algum fantasma no Porto? Fantasmas ligados a pessoas, lugares, eventos que aconteceram e que, mesmo tendo desaparecido, continuam presentes de uma forma impercetível?A fantasmagoria urbana começa quando queremos ver num sítio outro sítio. Quando o nariz deixa de saber reconhecer o novo e encontra apenas os cheiros do passado.Quando sentimos mais fortemente a ausência de algo do que a presença de algo. Quando dificilmente nos adaptamos à mudança, resistindo à novidade com “provas” de que o passado era melhor, mesmo que nunca o tenhamos visto ou experimentado. Quando sentimos falta e a famosa “saudade” portuguesa aperta. Um fantasma – aquele senhor de lençol branco – é a projeção de uma imagem do passado no presente. Um fantasma de uma cidade é um pedaço de cidade antiga rodeado de novo, ou uma ruína indecisa entre o abandono ou a preservação arqueológica. Os fantasmas do Porto estão por todo o lado, inclusivé na cabeça dos tripeiros. São cinemas desativados, projetos de arquitetura inacabados ou um centro histórico com desertificação. O charme de uma cidade reside muitas vezes nestas cápsulas de tempo, é nelas que o corpo se sobressalta. Sobressalta-se o corpo do turista pelo seu conhecimento ahistórico do espaço, sobressalta-se o corpo de quem habita o Porto por se ver a cada dia na paisagem familiar que constantamente estranha. Os fantasmas de uma cidade são tesouros que nem todos conhecem. Mas são também os erros que transbordam para o senso comum de quem habita a cidade como uma casa. Nostalgia, memória e desparecimento. Todas as cidades têm os seus fantasmas e esqueletos no armário.
Rita Natálio
Areosa Lda., uma velha fábrica de granito de uma cooperativa de pedreiros que agora está fechada. Há lá sempre um homem tão avarento que os seus sapatos eram uma tábua de madeira embrulhada em couro. [[A Fábrica da Areosa era a fábrica de Manuel Pinto de Azevedo. Foi registada em filme, em 1927, e pode ser visto no YouTube. O empresário aparece na segunda parte do filme (ao minuto 7’45’’). É um documento notável sobre a indústria e os meios de produção do setor têxtil do início do século XX.]]
O edifício sobre o rio onde agora há uma escadaria que era um edifício típico com armazém e loja no piso térreo e espaço habitacional nos superiores. [[]]
O fantasma do Aniki Bóbó [[]], o bar na Ribeira que roubou o nome ao filme de Manoel de Oliveira. Era um lugar mítico da vida noturna do Porto nos anos 80 e 90. Era um lugar de artistas, designers, gente das Belas Artes e figuras conhecidas da cultura portuense. Viam-se muitos artistas novos e as coisas que eles faziam. Ah! E a gata, a gata preta… A Ribeira era o ponto de encontro, o centro da noite e vibrava! Depois algo mudou, a movida já não era desejada naquele lugar, veio o carro-vassoura, e as pessoas dispersaram…
Cinemas: Cineclube do Porto. Cinema Terço, Batalha foram sendo transformados noutros projetos. Para as pessoas mais velhas, elas tinham realmente o hábito de lá ir. Cemitério Agramonte na Boavista é um dos mais importantes da Europa. Há pessoas que vêm de muito longe para o ver. [[]]
Havia cafés magníficos que foram transformados em bancos. Agora onde é o MacDonalds nos Aliados, havia um café magnífico.
A livraria Lello. [[Rua das Carmelitas 144 / T:222 002037]]
O Bolhão. A Torre dos Clérigos. O Porto sempre teve virado para o passado e temos que ultrapassar esse passado. O saudosismo tem que acabar.
Rua do Almada é a única rua direita da cidade. Foi construída durante um momento em que se queria fazer um projeto urbano revolucionário na cidade, fazer quarteirões quadrados, mas esta cidade tem um caráter mais forte do que qualquer projeto.
O fantasma da pobreza que pode ser visto na tentativa aparente das mulheres mostrarem roupas caras ou a importância social de ter um carro caro.
A intensidade da existência das pessoas, as coisas vintage, imagino as pessoas que utilizaram estes objetos. Gosto muito de sentir uma sensação intemporal e sinto-a aqui no Porto. Estas sensações intemporais que podes ver pelas viaturas, sinto-me noutra época porque há ruas (caminhos) e casas muito antigas.
Sinto a falta do Palácio de Cristal que nunca conheci. Podemos sentir a falta até daquilo que nunca conhecemos.
As pessoas ainda se comportam como nos anos 60. Há muito anacronismo especialmente no Centro Histórico, na Cordoaria.
O fantasma é a ditadura. Os 48 anos de ditadura permanecem na cabeça das pessoas. Falta de coragem. Em 1974 houve pela primeira vez Coca-Cola. Apanhamos tudo o que vem de fora porque estivemos tão fechados.
Uma vez fiz um percurso debaixo da terra porque há muitas galerias. É a companhia das Águas que lida com isso, mas em alguns momentos foi possível fazer esta visita.
Quando era adolescente estava numa de ser gótico, solitário e andava nas ruas à noite. Atravessava frequentemente a cidade sem encontrar uma única pessoa. Ou encontrava pessoas sozinhas. Gosto dessa solidão. Gosto de fantasmas. Sentes que te olham. Anjos ou soldados esculpidos nas paredes. Sentes que te olham. Cresci em Gaia e não tenho passado. Não consigo recuperar as ruas. Tudo mudou. Nos anos 90 tudo mudou de sítio, alterou-se. E também depois de 2001, mudou muito: tornou-se mais organizado com transportes públicos. Mas quando fazes um plano arquitetónico também precisas de ter um plano social!
Cheguei em 1992 e descobri a cidade de comboio. Hoje desapareceu.
O fantasma de Lisboa. O centralismo. Aqui no Porto vem sempre a partir da iniciativa privada, tens que investir tu próprio. Em Lisboa, todos os monumentos são financiados pelo erário público. Aqui é a iniciativa privada que conduz as coisas. O rei tinha de pedir autorização para entrar na cidade.
Os Ingleses. Um fantasma que explode por trás, pois sempre exploraram a cidade comercialmente. Hoje, as casas de vinho mais importantes pertencem às famílias Inglesas e eles realmente não investem aqui.
Os Fantasmas existem mal começas a aperceber-te da cidade. Não são óbvios. A forma como a cidade lida com os seus mortos é muito interessante. O Porto é uma cidade católica e os Ingleses que cá viviam eram protestantes e não lhes era permitido enterrar os seus mortos nos cemitérios católicos. Eram enterrados ao longo do Rio Douro. Não era permitido, mas eles não tinham outra solução e faziam-no. Até à Foz, havia areia e praias no Porto e em Gaia. Tenho uma bisavó Inglesa e ainda não sabemos onde ela foi enterrada. Por exemplo, quando renovaram o Palácio das Artes encontraram muitos ossos lá. Era um mosteiro para homens, mas os ossos não eram só de homens. Criaram o Cemitério dos Ingleses por esta razão.
Os cemitérios da cidade são bons lugares para visitar. O “Prado do Repouso” é lindo para visitar. Ouvi falar acerca de um túnel secreto entre este cemitério e o museu militar que fica lá perto. Há campas muito bonitas. Uma mulher presa durante o período fascista olhando na direção do Museu Militar que era então a sede da polícia política. As pedras de um jazigo vieram das pedras do Teatro Baquet que ardeu.
O anti-sul. Anti-mouros. “Se és de Gaia és mouro”. Mas isto não no sentido racista ou chauvinista, mas no sentido de orgulho.
A questão do confronto que sempre houve no Porto entre o poder civil e o poder religioso.
PESSOAS
O Duque da Ribeira numa noite de inverno, com chuva, no rio à procura de algum suicida desmaiado. [[ Batizado Diocleciano Monteiro, em 24 de Março de 1902, foi a própria mãe que lhe abreviou o nome para Duque. Com 11 anos, o “Duque da Ribeira”, como ficou conhecido, salvou das frias águas do Douro um rapaz mais velho que ele.E nunca mais parou. Até à sua morte, em 1996. Tinha 94 anos . A sua profissão, barqueiro, levava-o a passar a maior parte do tempo no rio e forjou-lhe a fama. Quem caísse ao rio o Duque ia buscar. “Alguns já mortos, mas lá no fundo é que não ficavam”, afirmou uma vez. A sua forte ligação ao rio, que lhe valeu medalhas, honrarias e condecorações, ficou estampada no nome do seu primeiro caíque, ” Capitão Cobb”. Um herói, como explicou mais tarde o Duque, que, quando morreu, quis que as suas cinzas fossem espalhadas pelo Rio Douro. ]]
O meu fantasma é o Aurélio da Paz dos Reis. Sabes onde é a loja da Benetton? Era uma fábrica antes e o Aurélio da Paz dos Reis, um empreendedor brilhante que era amigo do Louis Lumière, filmou operárias a sair dessa fábrica após o trabalho. Foi o primeiro a fazer filmes em Portugal. O Porto fez parte da aventura fotográfica e cinematográfica graças a este homem. A maioria das fotografias antigas da cidade que hoje podes ver foram feitas por ele. [[ Foto de Aurélio da Paz dos Reis e algumas das suas imagens do Porto novecentista.]]
TERCEIRO ATO
FUTURO
Remember we don’t believe in the future, we believe the future. There’s nothing to project on just plain and simple production. Mårten Spångberg
And alone, we live. Together and now we have visions fears and desires. Life we must share and maintain ourselves in spite of ourselves, in community. And again we remember that we are still alive and ask who is making the work, who is setting up an alternative economy giving with mutable access. Of this we must go and remember of life we all turn. Ben Kinmont
FANTASMAS NO PORTO
Conhece algum fantasma no Porto? Fantasmas ligados a pessoas, lugares, eventos que aconteceram e que, mesmo tendo desaparecido, continuam presentes de uma forma impercetível?A fantasmagoria urbana começa quando queremos ver num sítio outro sítio. Quando o nariz deixa de saber reconhecer o novo e encontra apenas os cheiros do passado.Quando sentimos mais fortemente a ausência de algo do que a presença de algo. Quando dificilmente nos adaptamos à mudança, resistindo à novidade com “provas” de que o passado era melhor, mesmo que nunca o tenhamos visto ou experimentado. Quando sentimos falta e a famosa “saudade” portuguesa aperta. Um fantasma – aquele senhor de lençol branco – é a projeção de uma imagem do passado no presente. Um fantasma de uma cidade é um pedaço de cidade antiga rodeado de novo, ou uma ruína indecisa entre o abandono ou a preservação arqueológica. Os fantasmas do Porto estão por todo o lado, inclusivé na cabeça dos tripeiros. São cinemas desativados, projetos de arquitetura inacabados ou um centro histórico com desertificação. O charme de uma cidade reside muitas vezes nestas cápsulas de tempo, é nelas que o corpo se sobressalta. Sobressalta-se o corpo do turista pelo seu conhecimento ahistórico do espaço, sobressalta-se o corpo de quem habita o Porto por se ver a cada dia na paisagem familiar que constantamente estranha. Os fantasmas de uma cidade são tesouros que nem todos conhecem. Mas são também os erros que transbordam para o senso comum de quem habita a cidade como uma casa. Nostalgia, memória e desparecimento. Todas as cidades têm os seus fantasmas e esqueletos no armário.
Rita Natálio
Areosa Lda., uma velha fábrica de granito de uma cooperativa de pedreiros que agora está fechada. Há lá sempre um homem tão avarento que os seus sapatos eram uma tábua de madeira embrulhada em couro. [[A Fábrica da Areosa era a fábrica de Manuel Pinto de Azevedo. Foi registada em filme, em 1927, e pode ser visto no YouTube. O empresário aparece na segunda parte do filme (ao minuto 7’45’’). É um documento notável sobre a indústria e os meios de produção do setor têxtil do início do século XX.]]
O edifício sobre o rio onde agora há uma escadaria que era um edifício típico com armazém e loja no piso térreo e espaço habitacional nos superiores. [[]]
O fantasma do Aniki Bóbó [[]], o bar na Ribeira que roubou o nome ao filme de Manoel de Oliveira. Era um lugar mítico da vida noturna do Porto nos anos 80 e 90. Era um lugar de artistas, designers, gente das Belas Artes e figuras conhecidas da cultura portuense. Viam-se muitos artistas novos e as coisas que eles faziam. Ah! E a gata, a gata preta… A Ribeira era o ponto de encontro, o centro da noite e vibrava! Depois algo mudou, a movida já não era desejada naquele lugar, veio o carro-vassoura, e as pessoas dispersaram…
Cinemas: Cineclube do Porto. Cinema Terço, Batalha foram sendo transformados noutros projetos. Para as pessoas mais velhas, elas tinham realmente o hábito de lá ir. Cemitério Agramonte na Boavista é um dos mais importantes da Europa. Há pessoas que vêm de muito longe para o ver. [[]]
Havia cafés magníficos que foram transformados em bancos. Agora onde é o MacDonalds nos Aliados, havia um café magnífico.
A livraria Lello. [[Rua das Carmelitas 144 / T:222 002037]]
O Bolhão. A Torre dos Clérigos. O Porto sempre teve virado para o passado e temos que ultrapassar esse passado. O saudosismo tem que acabar.
Rua do Almada é a única rua direita da cidade. Foi construída durante um momento em que se queria fazer um projeto urbano revolucionário na cidade, fazer quarteirões quadrados, mas esta cidade tem um caráter mais forte do que qualquer projeto.
O fantasma da pobreza que pode ser visto na tentativa aparente das mulheres mostrarem roupas caras ou a importância social de ter um carro caro.
A intensidade da existência das pessoas, as coisas vintage, imagino as pessoas que utilizaram estes objetos. Gosto muito de sentir uma sensação intemporal e sinto-a aqui no Porto. Estas sensações intemporais que podes ver pelas viaturas, sinto-me noutra época porque há ruas (caminhos) e casas muito antigas.
Sinto a falta do Palácio de Cristal que nunca conheci. Podemos sentir a falta até daquilo que nunca conhecemos.
As pessoas ainda se comportam como nos anos 60. Há muito anacronismo especialmente no Centro Histórico, na Cordoaria.
O fantasma é a ditadura. Os 48 anos de ditadura permanecem na cabeça das pessoas. Falta de coragem. Em 1974 houve pela primeira vez Coca-Cola. Apanhamos tudo o que vem de fora porque estivemos tão fechados.
Uma vez fiz um percurso debaixo da terra porque há muitas galerias. É a companhia das Águas que lida com isso, mas em alguns momentos foi possível fazer esta visita.
Quando era adolescente estava numa de ser gótico, solitário e andava nas ruas à noite. Atravessava frequentemente a cidade sem encontrar uma única pessoa. Ou encontrava pessoas sozinhas. Gosto dessa solidão. Gosto de fantasmas. Sentes que te olham. Anjos ou soldados esculpidos nas paredes. Sentes que te olham. Cresci em Gaia e não tenho passado. Não consigo recuperar as ruas. Tudo mudou. Nos anos 90 tudo mudou de sítio, alterou-se. E também depois de 2001, mudou muito: tornou-se mais organizado com transportes públicos. Mas quando fazes um plano arquitetónico também precisas de ter um plano social!
Cheguei em 1992 e descobri a cidade de comboio. Hoje desapareceu.
O fantasma de Lisboa. O centralismo. Aqui no Porto vem sempre a partir da iniciativa privada, tens que investir tu próprio. Em Lisboa, todos os monumentos são financiados pelo erário público. Aqui é a iniciativa privada que conduz as coisas. O rei tinha de pedir autorização para entrar na cidade.
Os Ingleses. Um fantasma que explode por trás, pois sempre exploraram a cidade comercialmente. Hoje, as casas de vinho mais importantes pertencem às famílias Inglesas e eles realmente não investem aqui.
Os Fantasmas existem mal começas a aperceber-te da cidade. Não são óbvios. A forma como a cidade lida com os seus mortos é muito interessante. O Porto é uma cidade católica e os Ingleses que cá viviam eram protestantes e não lhes era permitido enterrar os seus mortos nos cemitérios católicos. Eram enterrados ao longo do Rio Douro. Não era permitido, mas eles não tinham outra solução e faziam-no. Até à Foz, havia areia e praias no Porto e em Gaia. Tenho uma bisavó Inglesa e ainda não sabemos onde ela foi enterrada. Por exemplo, quando renovaram o Palácio das Artes encontraram muitos ossos lá. Era um mosteiro para homens, mas os ossos não eram só de homens. Criaram o Cemitério dos Ingleses por esta razão.
Os cemitérios da cidade são bons lugares para visitar. O “Prado do Repouso” é lindo para visitar. Ouvi falar acerca de um túnel secreto entre este cemitério e o museu militar que fica lá perto. Há campas muito bonitas. Uma mulher presa durante o período fascista olhando na direção do Museu Militar que era então a sede da polícia política. As pedras de um jazigo vieram das pedras do Teatro Baquet que ardeu.
O anti-sul. Anti-mouros. “Se és de Gaia és mouro”. Mas isto não no sentido racista ou chauvinista, mas no sentido de orgulho.
A questão do confronto que sempre houve no Porto entre o poder civil e o poder religioso.
PESSOAS
O Duque da Ribeira numa noite de inverno, com chuva, no rio à procura de algum suicida desmaiado. [[ Batizado Diocleciano Monteiro, em 24 de Março de 1902, foi a própria mãe que lhe abreviou o nome para Duque. Com 11 anos, o “Duque da Ribeira”, como ficou conhecido, salvou das frias águas do Douro um rapaz mais velho que ele.E nunca mais parou. Até à sua morte, em 1996. Tinha 94 anos . A sua profissão, barqueiro, levava-o a passar a maior parte do tempo no rio e forjou-lhe a fama. Quem caísse ao rio o Duque ia buscar. “Alguns já mortos, mas lá no fundo é que não ficavam”, afirmou uma vez. A sua forte ligação ao rio, que lhe valeu medalhas, honrarias e condecorações, ficou estampada no nome do seu primeiro caíque, ” Capitão Cobb”. Um herói, como explicou mais tarde o Duque, que, quando morreu, quis que as suas cinzas fossem espalhadas pelo Rio Douro. ]]
O meu fantasma é o Aurélio da Paz dos Reis. Sabes onde é a loja da Benetton? Era uma fábrica antes e o Aurélio da Paz dos Reis, um empreendedor brilhante que era amigo do Louis Lumière, filmou operárias a sair dessa fábrica após o trabalho. Foi o primeiro a fazer filmes em Portugal. O Porto fez parte da aventura fotográfica e cinematográfica graças a este homem. A maioria das fotografias antigas da cidade que hoje podes ver foram feitas por ele. [[ Foto de Aurélio da Paz dos Reis e algumas das suas imagens do Porto novecentista.]]
TERCEIRO ATO
FUTURO
Remember we don’t believe in the future, we believe the future. There’s nothing to project on just plain and simple production. Mårten Spångberg
And alone, we live. Together and now we have visions fears and desires. Life we must share and maintain ourselves in spite of ourselves, in community. And again we remember that we are still alive and ask who is making the work, who is setting up an alternative economy giving with mutable access. Of this we must go and remember of life we all turn. Ben Kinmont
FANTASMAS NO PORTO
Conhece algum fantasma no Porto? Fantasmas ligados a pessoas, lugares, eventos que aconteceram e que, mesmo tendo desaparecido, continuam presentes de uma forma impercetível?A fantasmagoria urbana começa quando queremos ver num sítio outro sítio. Quando o nariz deixa de saber reconhecer o novo e encontra apenas os cheiros do passado.Quando sentimos mais fortemente a ausência de algo do que a presença de algo. Quando dificilmente nos adaptamos à mudança, resistindo à novidade com “provas” de que o passado era melhor, mesmo que nunca o tenhamos visto ou experimentado. Quando sentimos falta e a famosa “saudade” portuguesa aperta. Um fantasma – aquele senhor de lençol branco – é a projeção de uma imagem do passado no presente. Um fantasma de uma cidade é um pedaço de cidade antiga rodeado de novo, ou uma ruína indecisa entre o abandono ou a preservação arqueológica. Os fantasmas do Porto estão por todo o lado, inclusivé na cabeça dos tripeiros. São cinemas desativados, projetos de arquitetura inacabados ou um centro histórico com desertificação. O charme de uma cidade reside muitas vezes nestas cápsulas de tempo, é nelas que o corpo se sobressalta. Sobressalta-se o corpo do turista pelo seu conhecimento ahistórico do espaço, sobressalta-se o corpo de quem habita o Porto por se ver a cada dia na paisagem familiar que constantamente estranha. Os fantasmas de uma cidade são tesouros que nem todos conhecem. Mas são também os erros que transbordam para o senso comum de quem habita a cidade como uma casa. Nostalgia, memória e desparecimento. Todas as cidades têm os seus fantasmas e esqueletos no armário.
Rita Natálio
Areosa Lda., uma velha fábrica de granito de uma cooperativa de pedreiros que agora está fechada. Há lá sempre um homem tão avarento que os seus sapatos eram uma tábua de madeira embrulhada em couro. [[A Fábrica da Areosa era a fábrica de Manuel Pinto de Azevedo. Foi registada em filme, em 1927, e pode ser visto no YouTube. O empresário aparece na segunda parte do filme (ao minuto 7’45’’). É um documento notável sobre a indústria e os meios de produção do setor têxtil do início do século XX.]]
O edifício sobre o rio onde agora há uma escadaria que era um edifício típico com armazém e loja no piso térreo e espaço habitacional nos superiores. [[]]
O fantasma do Aniki Bóbó [[]], o bar na Ribeira que roubou o nome ao filme de Manoel de Oliveira. Era um lugar mítico da vida noturna do Porto nos anos 80 e 90. Era um lugar de artistas, designers, gente das Belas Artes e figuras conhecidas da cultura portuense. Viam-se muitos artistas novos e as coisas que eles faziam. Ah! E a gata, a gata preta… A Ribeira era o ponto de encontro, o centro da noite e vibrava! Depois algo mudou, a movida já não era desejada naquele lugar, veio o carro-vassoura, e as pessoas dispersaram…
Cinemas: Cineclube do Porto. Cinema Terço, Batalha foram sendo transformados noutros projetos. Para as pessoas mais velhas, elas tinham realmente o hábito de lá ir. Cemitério Agramonte na Boavista é um dos mais importantes da Europa. Há pessoas que vêm de muito longe para o ver. [[]]
Havia cafés magníficos que foram transformados em bancos. Agora onde é o MacDonalds nos Aliados, havia um café magnífico.
A livraria Lello. [[Rua das Carmelitas 144 / T:222 002037]]
O Bolhão. A Torre dos Clérigos. O Porto sempre teve virado para o passado e temos que ultrapassar esse passado. O saudosismo tem que acabar.
Rua do Almada é a única rua direita da cidade. Foi construída durante um momento em que se queria fazer um projeto urbano revolucionário na cidade, fazer quarteirões quadrados, mas esta cidade tem um caráter mais forte do que qualquer projeto.
O fantasma da pobreza que pode ser visto na tentativa aparente das mulheres mostrarem roupas caras ou a importância social de ter um carro caro.
A intensidade da existência das pessoas, as coisas vintage, imagino as pessoas que utilizaram estes objetos. Gosto muito de sentir uma sensação intemporal e sinto-a aqui no Porto. Estas sensações intemporais que podes ver pelas viaturas, sinto-me noutra época porque há ruas (caminhos) e casas muito antigas.
Sinto a falta do Palácio de Cristal que nunca conheci. Podemos sentir a falta até daquilo que nunca conhecemos.
As pessoas ainda se comportam como nos anos 60. Há muito anacronismo especialmente no Centro Histórico, na Cordoaria.
O fantasma é a ditadura. Os 48 anos de ditadura permanecem na cabeça das pessoas. Falta de coragem. Em 1974 houve pela primeira vez Coca-Cola. Apanhamos tudo o que vem de fora porque estivemos tão fechados.
Uma vez fiz um percurso debaixo da terra porque há muitas galerias. É a companhia das Águas que lida com isso, mas em alguns momentos foi possível fazer esta visita.
Quando era adolescente estava numa de ser gótico, solitário e andava nas ruas à noite. Atravessava frequentemente a cidade sem encontrar uma única pessoa. Ou encontrava pessoas sozinhas. Gosto dessa solidão. Gosto de fantasmas. Sentes que te olham. Anjos ou soldados esculpidos nas paredes. Sentes que te olham. Cresci em Gaia e não tenho passado. Não consigo recuperar as ruas. Tudo mudou. Nos anos 90 tudo mudou de sítio, alterou-se. E também depois de 2001, mudou muito: tornou-se mais organizado com transportes públicos. Mas quando fazes um plano arquitetónico também precisas de ter um plano social!
Cheguei em 1992 e descobri a cidade de comboio. Hoje desapareceu.
O fantasma de Lisboa. O centralismo. Aqui no Porto vem sempre a partir da iniciativa privada, tens que investir tu próprio. Em Lisboa, todos os monumentos são financiados pelo erário público. Aqui é a iniciativa privada que conduz as coisas. O rei tinha de pedir autorização para entrar na cidade.
Os Ingleses. Um fantasma que explode por trás, pois sempre exploraram a cidade comercialmente. Hoje, as casas de vinho mais importantes pertencem às famílias Inglesas e eles realmente não investem aqui.
Os Fantasmas existem mal começas a aperceber-te da cidade. Não são óbvios. A forma como a cidade lida com os seus mortos é muito interessante. O Porto é uma cidade católica e os Ingleses que cá viviam eram protestantes e não lhes era permitido enterrar os seus mortos nos cemitérios católicos. Eram enterrados ao longo do Rio Douro. Não era permitido, mas eles não tinham outra solução e faziam-no. Até à Foz, havia areia e praias no Porto e em Gaia. Tenho uma bisavó Inglesa e ainda não sabemos onde ela foi enterrada. Por exemplo, quando renovaram o Palácio das Artes encontraram muitos ossos lá. Era um mosteiro para homens, mas os ossos não eram só de homens. Criaram o Cemitério dos Ingleses por esta razão.
Os cemitérios da cidade são bons lugares para visitar. O “Prado do Repouso” é lindo para visitar. Ouvi falar acerca de um túnel secreto entre este cemitério e o museu militar que fica lá perto. Há campas muito bonitas. Uma mulher presa durante o período fascista olhando na direção do Museu Militar que era então a sede da polícia política. As pedras de um jazigo vieram das pedras do Teatro Baquet que ardeu.
O anti-sul. Anti-mouros. “Se és de Gaia és mouro”. Mas isto não no sentido racista ou chauvinista, mas no sentido de orgulho.
A questão do confronto que sempre houve no Porto entre o poder civil e o poder religioso.
PESSOAS
O Duque da Ribeira numa noite de inverno, com chuva, no rio à procura de algum suicida desmaiado. [[ Batizado Diocleciano Monteiro, em 24 de Março de 1902, foi a própria mãe que lhe abreviou o nome para Duque. Com 11 anos, o “Duque da Ribeira”, como ficou conhecido, salvou das frias águas do Douro um rapaz mais velho que ele.E nunca mais parou. Até à sua morte, em 1996. Tinha 94 anos . A sua profissão, barqueiro, levava-o a passar a maior parte do tempo no rio e forjou-lhe a fama. Quem caísse ao rio o Duque ia buscar. “Alguns já mortos, mas lá no fundo é que não ficavam”, afirmou uma vez. A sua forte ligação ao rio, que lhe valeu medalhas, honrarias e condecorações, ficou estampada no nome do seu primeiro caíque, ” Capitão Cobb”. Um herói, como explicou mais tarde o Duque, que, quando morreu, quis que as suas cinzas fossem espalhadas pelo Rio Douro. ]]
O meu fantasma é o Aurélio da Paz dos Reis. Sabes onde é a loja da Benetton? Era uma fábrica antes e o Aurélio da Paz dos Reis, um empreendedor brilhante que era amigo do Louis Lumière, filmou operárias a sair dessa fábrica após o trabalho. Foi o primeiro a fazer filmes em Portugal. O Porto fez parte da aventura fotográfica e cinematográfica graças a este homem. A maioria das fotografias antigas da cidade que hoje podes ver foram feitas por ele. [[ Foto de Aurélio da Paz dos Reis e algumas das suas imagens do Porto novecentista.]]